Nota Política do ER aos membros da comunidade e camaradas que nos acompanham sobre a atual crise no Partido Comunista Brasileiro.
Amanhã a noite(11/08) iremos realizar um evento na comunidade do discord para lermos a nota juntos, como também abriremos o tema para o debate. Convidamos a todes es camaradas para participar!
Introdução
MCI e Reconstrução
O movimento comunista internacional (MCI) tem enfrentado desde a queda da União Soviética (89-91) um profundo processo de disputa política e luta interna sobre os rumos que os partidos comunistas tomariam a partir daí, nesse processo, ideias liquidacionistas de todo tipo encontraram terreno fértil para se reproduzir dentro das organizações comunistas, negando a necessidade do partido comunista para organizar as massas para a revolução socialista, negando os princípios do marxismo-leninismo.
Com o passar dos anos, as contradições do MCI eram tantas que acabou por se dividir em diversas alas, no geral, marxistas-leninistas, que ainda prezam pela revolução socialista, e os liquidacionistas oportunistas, que de alguma forma negam o partido comunista e a revolução, seja pela forma de etapismo, centrismo, conciliação em revelia aos princípios e afins. Essas cisões geraram novos partidos e organizações, e não poderia ser diferente, a luta de classes também existe nos partidos.
No entanto, o movimento comunista não ficou parado no tempo ou deixado para abutres oportunistas, várias gerações de comunistas travaram a luta interna em seus países para a reorientação de suas organizações ao marxismo-leninismo. Todo este processo não foi se não pela sua reconstrução, partidos como o PCM, TKP, KKE, PCV, PCTE e PCB são a prova viva deste processo, o ressurgimento do MCI.
PCB e Luta Interna
A luta interna no partido é consequência da própria luta de classes. A luta de classes percorre todas as formas sociais como o ar percorre a Terra e, assim, é impossível que no partido da vanguarda do proletariado não exista luta de classes ocorrendo no seu interior. A liberdade de crítica no partido é o fundamento da operacionalização do centralismo democrático [1], por isso, impedir que essa liberdade em forma de luta interna ocorra no partido é forçá-la que ocorra de forma subterrânea nos corredores da organização até que tendências surjam, rompendo com a forma do centralismo democrático.
A atual crise no Partido Comunista Brasileiro é produto do cerceamento da liberdade de crítica de forma inconsequente, gestando no interior da organização figuras carreiristas que se organizam em grupo para minar a crítica e autocrítica, falseando a linha política e então tomando controle da organização e retirando dos rumos revolucionários. Nós somos pela luta ideológica ativa porque é a única arma para se alcançar a unidade interna do Partido [2].
Quem leva uma linha política que busca sempre a imposição de uma disciplina rígida em nome de “unidade”, silenciando a liberdade de crítica (o motor do centralismo democrático), sempre restringindo de forma burocrática toda iniciativa que avance na construção de um partido revolucionário organizado e consciente (o jornal, as finanças profissionais, etc), forçando-o ao amadorismo, o faz por temer as consequências ideológicas e práticas dessa construção, numa palavra, teme que seu poder político seja minado. O partido não é um Leviatã.
Assim se formam as tendências. A linha política centrista e monolítica degenera a organização para a direita e, ao fazer isso, quem realmente busca a conquista do poder político pelo proletariado também age para combater essa degeneração. É tarefa histórica de quem luta pela Revolução Brasileira impedir a degeneração do partido e ir adiante.
Sem tempo para ter medo
O PCB, assim como todos os partidos políticos e organizações no mundo, não é um partido perfeito e nunca será, ele é atravessado por vitórias e derrotas, acertos e erros, disputas, problemas e afins, a luta de classes também existe dentro do partido e isso faz parte, não pode haver unidade sem disputa, é uma dinâmica que precisa acontecer.
Por isso, é possível que ocorram desvios no partido, qualquer camarada pode entrar na organização com um objetivo mas desviar-se para outro, é papel des militantes fazerem essa disputa coletivamente para a fidelidade aos princípios, para combater os desvios na organização.
O PCB está em seus 30 anos de reconstrução revolucionária, inegavelmente este é um processo longo, mas existem momentos em que esses 30 anos podem passar em alguns meses de disputa política, permitindo um salto de qualidade no movimento comunista brasileiro. É isso que estamos vendo agora.
O fato da militância do partido exigir um novo congresso para a superação do imobilismo, de uma linha centrista, contra as injustiças que estão sendo feitas, é um exemplo de que a militância do partido é fiel aos princípios, revolucionária, e não vai tolerar, abafar, ou adiar essa luta.
Respeitamos o receio e ansiedade que todes es camaradas possam estar passando no momento atual, em dúvida do que significa a disputa que está havendo no PCB, acreditamos também que o Educação Revolucionária pode e precisa estar disposto a sanar as dúvidas des camaradas, portanto suas dúvidas são legítimas e pedimos desculpas se não estamos conseguindo responder a todes.
O expurgo corrente no PCB é consequência da disformia da linha política, que carrega dialeticamente uma forma de solução frontal: o XVII Congresso (Extraordinário) do PCB. Se deveria haver algum momento para se organizar, o momento é esse, então não tenhamos medo da luta interna no PCB, ela representa, em essência, a garantia da sua reconstrução revolucionária!
A Posição do Coletivo
Antes de tudo, nos solidarizamos com camaradas que sofreram expulsões por Processos Disciplinares irregulares, sabemos que dirigentes incapazes de orientar a classe nos grandes confrontos gostam de controlar com rédea curta es membres do partido [3].
O partido comunista é o instrumento revolucionário pelo qual se desenvolve e organiza o movimento espontâneo das massas e suas organizações para se travar a luta de classes. Sua necessidade como vanguarda de classe é histórica, resultado de uma luta de classes altamente desenvolvida, onde suas determinações o tornam a única e mais elevada organização capaz de abarcar os principais setores nacionais do proletariado e, portanto, conduzí-lo enquanto classe para a luta política.
O Educação Revolucionária, enquanto um coletivo de agitação e propaganda digital [4], não se superestima a uma organização como o partido político, estamos a muito tempo buscando essa aproximação, porém também não subestimamos a atuação digital, um campo muito importante mas pouco desenvolvido. Somos pela centralização da agitação e propaganda no partido, portanto isso vale para o nosso coletivo.
Assim, o ER se posiciona a favor de um partido revolucionário marxista-leninista que esteja à serviço da classe trabalhadora brasileira e a sua ferramenta para consolidação do poder popular, no caminho da revolução.
Nota em PDF:
Referências e notas
[1] “A crítica dentro dos limites dos princípios do Programa do Partido deve ser bastante livre[...], não apenas nas reuniões do Partido, mas também nas reuniões públicas. Tal crítica, ou tal “agitação” (porque a crítica é inseparável da agitação) não pode ser proibida. A ação política do partido deve ser unida. Nenhuma “convocação” que viole a unidade de ações definidas pode ser tolerada tanto em reuniões públicas, como em reuniões do Partido ou na imprensa do Partido.” – V.LÊNIN, Centralismo Democrático: “Liberdade para Criticar e Unidade de Ação”
[2] “Nós somos pela luta ideológica ativa porque é uma arma para se alcançar a unidade interna do Partido e das demais organizações revolucionárias, em benefício do nosso combate. Cada membro do Partido Comunista, todo o revolucionário, deve empunhar essa arma.
O liberalismo, porém, rejeita a luta ideológica e preconiza uma harmonia sem princípios, o que dá lugar a um estilo decadente, filisteu, e provoca a degenerescência política de certas entidades e indivíduos, no Partido e nas outras organizações revolucionárias...” – MAO, Contra o Liberalismo
[3] “Quanto mais fraca é a autoridade do partido perante a classe, quanto menor é a confiança dos seus dirigentes na classe, quanto mais frouxos os laços do partido com a classe, tanto mais emerge a tendência para compensar essa fraqueza através da disciplina rígida. Dirigentes incapazes de orientar a classes nos grandes confrontos gostam de controlar com rédea curta os membros do partido.” – FMR, Que Partido?
[4] Agitação por conta do trabalho nas redes sociais, propaganda por conta do trabalho que realizamos na comunidade, sem dizer que também dispomos de literatura marxista-leninista no site.
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